quarta-feira, 5 de maio de 2010

Pauta colaborativa

Esta pauta foi feita por Mauro Castro com a proposta de ser um matéria colaborativa, em que uma pessoa que não é da área da comunicação faz o papel do jornalista. O objetivo é dar as diretrizes para o leitor ser também um comunicador, de uma forma ética e cidadã.

Uma vida múltipla

Acho que nenhum adolescente sonha em ser taxista. Eu também não sonhava, assumi essa profissão meio que por osmose, herdada do meu pai. A vida é uma estrada cheia de desvios, uma prova cheia de questões de múltipla escolha. O fato é que acabei parando no volante de um táxi e, por incrível que pareça, gosto muito de minha profissão.
Tenho uma passageira, adolescente, que levo uma vez por semana ao analista. Ela não gosta, mas os pais a obrigam. Aliás, desconfio que os pais são o principal problema da menina. Eles não a entendem, não a aceitam.
Assim que embarca no táxi, ela abre um estojo de maquiagem e começa a se montar. Coloca sombras muito escuras nos olhos, batom preto, gel no cabelo e outras coisas mais. Quando volta da análise, antes de entrar em casa, ela tira tudo. Volta a ser a menina que os pais gostariam que fosse. E isso não é tudo.
O pai, um importante funcionário da área diplomática, deu dinheiro para que ela fizesse um curso de Inglês. Ao invés disso, ela inscreveu-se em um curso de artes circenses. Está praticando malabarismo aéreo em tecido - uma modalidade de acrobacia em que o artista se pendura em uma fita de tecido e faz manobras no ar. Dia desses, fiquei para assistir a uma aula. Bem legal.
Acho cruel exigir que um jovem na casa dos vinte anos decida o que quer ser na vida. Quando tinha essa idade, meu pai sonhava que eu fosse funcionário do Banco do Brasil, mas sempre me apoiou em minhas decisões, mesmo quando resolvi que seria um taxista-escritor-músico-desenhista. Nessa ordem.
Nem todos levam às últimas consequência seus sonhos juvenis. À medida que o mundo gira, minha jovem passageira, por exemplo, pode perceber que a carreira diplomática tem lá sua graça, assim como a vida no picadeiro. Talvez, então, pai e filha se entendam.
Por falar em pai, alguém sabe quando abre concurso para o Banco do Brasil?

Um comentário:

  1. Ficou ótimo! Mauro já pode acrescentar isso à vida dupla dele. Que agora é tripla. De qualquer forma, as conversas dele enquanto leva passageiros já são entrevistas.
    O músico-psiquiatra escolheu duas profissões muito boas. "Loucura" se cura também com música, então ele trata o doente e depois recomenda uma sessão de rock. Com os Cartolas, claro!
    Abraços, moçada. Parabéns pelo trabalho.

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