segunda-feira, 12 de abril de 2010

Mauro Castro

O CARA DOS MÚLTIPLOS TALENTOS

Nome: Mauro Edson Santana Castro
Idade: 43 anos
Por que tem uma vida dupla? É taxista e escritor.


Existem cerca de 10.200 motoristas de táxi em Porto Alegre. A maioria deles é muito falante, bem humorada e com várias histórias para contar. O que fez a diferença para Mauro Castro é que ele transportava para o trabalho o editor de um grande jornal popular de Porto Alegre. Eles conversavam sobre literatura, assuntos do cotidiano e, claro, sobre todos os acontecimentos inusitados na vida de um taxista. Com toda a sensibilidade e o faro para algo que possa virar notícia que um jornalista deve ter, Cyro Martins logo percebeu que os “causos” de Mauro poderiam ser um diferencial para o jornal. Perguntou ao taxista se ele poderia escrever uma dessas histórias e enviar para ele. O editor gostou muito da primeira história e pediu que Mauro, se tivesse mais delas escritas, enviasse para ele. Mauro escreveu mais algumas crônicas e mandou para Cyro, que o convidou para colaborar com o jornal quando tivesse algum texto. Assim começou a sua vida dupla: taxista (coloca o taxista em primeiro, ele pede) e escritor. Atualmente, ele tem uma coluna semanal no Diário Gaúcho – com quase 400 textos já publicados – um blog, o Taxitramas, e um livro já publicado.

Apesar de ser blogueiro, cronista, desenhista amador e até músico, Mauro não pensa que tem uma vida dupla, porque não acha que vive a vida de escritor. Escreve seus textos ali, dentro do táxi, entre uma corrida e outra. Algumas histórias são suas, outras são dos colegas, que frequentemente aparecem na coluna. O ponto de táxi é o lugar de encontro e conversas, onde os casos são contados. Ismar Castro, apelidado de Tinga, conta que já se acostumou com a fama do amigo e as entrevistas que são feitas no local. Outro amigo, Luiz Antonio Florindo – o Toninho – conhece Mauro há mais de 8 anos e não imaginava que ele tivesse todo esse talento para a escrita. Já Álvaro dos Santos Machado, conhecido como “Dedo duro”, sempre desconfiou da veia artística do colega e lembra da vez em que se envolveu em uma “quase-briga”, quando pegou um martelo e foi em direção a um sujeito. Mauro “descaradamente”, no outro dia, apareceu com um desenho de Álvaro com um martelo na mão. “Não era para ele estar trabalhando como taxista, era para ele ser desenhista, jornalista”, opina “Dedo duro”. Quando jovem, Mauro até pensou em ser jornalista. Fazia fanzines (espécie de jornal amador) com os amigos, mas nunca escreveu regularmente. Acabou comprando o táxi e gostando da profissão, pela possibilidade de trabalhar por conta própria e de fazer seus próprios horários. Não trocaria a profissão de taxista pela de jornalista, como poderia ter ocorrido quando foi convidado por Cyro Martins para trabalhar no jornal. Na época, havia a exigência do diploma de jornalismo e o taxista preferiu não fazer o curso. “É o táxi que paga as contas lá em casa. Acredito que o jornalismo não me daria a mesma remuneração que o táxi”, explica Mauro.

Veja as fotos da entrevista:



Quando se depara com a pergunta “Você escreve bem?”, o cronista hesita um pouco, mas acaba deixando a modéstia de lado e declara que sim. Acredita que o escritor bom não é só aquele que tem talento, mas que também pratica constantemente, cada vez mais aperfeiçoando a escrita. Algumas histórias acontecem com ele e outras ele coleta com colegas, edita, coloca uma pitada de ficção. A maioria delas são de passageiros que pegam táxi no ponto onde ele fica, na Rua Saldanha Marino com a Av. Getúlio Vargas (ver o mapa abaixo), por isso Mauro tem o cuidado de trocar os nomes, para não “se incomodar”. Ele conta que algumas histórias são muito peculiares e os passageiros acabam identificando que aquilo aconteceu com eles. Alguns reclamam, outros gostam. Já aconteceram casos engraçados (para nós, pelo menos), como o de uma mulher que descobriu, através de um dos textos que era traída pelo marido. Alguns ainda duvidam da veracidade das crônicas e sempre tem um para perguntar se aquilo é verdade mesmo.


Exibir mapa ampliado

Quando se acha que o taxista/escritor não poderia ter uma vida mais movimentada, ele ainda declara que é músico. Toca teclado em duas bandas – uma que se apresenta em casamentos, Claves em Sol, com o predomínio de músicas clássicas, e outra chamada Banda Larga, com um estilo pop. “Dedo duro” estava mesmo certo, Mauro deveria estar trabalhando como artista. Porém, sem sua vivência de taxista, ele não teria todas essas histórias para contar e poderia ser um artista medíocre. Embora Mauro não ache que tenha uma vida dupla, dá para perceber que ele não nasceu para ter uma vida só.

Confira trechos da entrevista em vídeo:




Passageiros Virtuais


Com tantos blogs sobre assuntos diferentes disponíveis na Internet, conseguir manter leitores assíduos é uma grande dificuldade. Achar um diferencial é um desafio para o blogueiro e Mauro Castro conseguiu isso: tem mais de 240 seguidores no Taxitramas. Além disso, possui os leitores de sua coluna semanal no Diário Gaúcho, que muitas vezes também migram para o ambiente eletrônico. Esse é o caso de Ricardo Mainieri, 49 anos, que assim como Mauro tem mais de uma profissão – é publicitário, servidor público e poeta nas horas vagas. O que fez com que Ricardo se tornasse leitor fiel de Mauro foi “principalmente o senso de humor e as estórias insólitas. E admiração por alguém com uma profissão mais operacional detentor de um bom nível de escrita”.

Questionado sobre se gostaria de ser um personagem de alguma história do taxista, o leitor afirma que prefere o anonimato. Ao contrário de Clarice De Marco, bancária aposentada e seguidora do trabalho de Mauro há aproximadamente quatro anos, que sonha: “E quem não gostaria de virar personagem?” Ela conheceu o texto do escritor através do blog e já teve a oportunidade de encontrá-lo pessoalmente. Inclusive, ela gostaria que a história do encontro dos dois fosse contada por Mauro. Para ela, o texto é o principal trunfo do taxista: “A narrativa dele é concisa, ritmada, surpreendente muitas vezes. Talvez por lidar diariamente com pessoas, ele desenvolveu essa sensibilidade para captar os sentimentos delas e transformar isso em histórias tristes, hilárias, curiosas. O texto dele é leve, agradável, pessoal. Quando se começa a ler, é como se estivéssemos dentro do carro com ele. Pra mim isso é conexão com o leitor”.

3 comentários:

  1. Parabéns pela iniciativa da entrevista!
    O Mauro merece!

    ResponderExcluir
  2. Ahhh.. eu adoooro o Mauro.
    Vcs mandaram mto bem!!!

    ResponderExcluir
  3. ah eu queria conhecer o mauro vivo pegando taxí e adoro suas histórias são otimas.simone podologa

    ResponderExcluir