quarta-feira, 19 de maio de 2010

André Silveira

ANDRÉ SILVEIRA, UM SUJEITO BOA PRAÇA


Nome: André Silveira
Idade: 31 anos
Por que tem uma vida dupla: É médico psiquiatra e músico


“Eu não gosto de doideira total, mas também não gosto de rotina.” Essa frase de André Silveira resume bem seu estilo de vida. Ele é médico psiquiatra e guitarrista da banda Cartolas.
Na vida de André, a medicina e a música começaram juntas. No último ano do Ensino Médio, em que se preparava para o vestibular, que aprendeu a tocar violão. Até hoje as duas atividades se complementam.


Eu não consigo fazer uma coisa só by natyrgomes


Para dar conta das duas atividades, André recorre a uma rotina diferenciada. Mantém uma carga maior de reuniões e consultas da psiquiatria de segunda após o meio-dia até quinta-feira, ficando o início da semana e a sexta-feira mais leves. Mas o alívio que a sexta recebe da rotina de médico é contrabalançado pela Cartolas. Como uma banda de rock que se preze, a chegada do fim de semana significa uma agenda atribulada com shows e viagens.


Além de tocar guitarra, também é responsável por boa parte das composições dos Cartolas. As letras das músicas, com apenas uma exceção, são de autoria dele. Também colabora na criação de grande parte das melodias. Ele tem o hábito de se dedicar à composição todos os dias. São poucos os dias em que a atividade rende frutos para os Cartolas, mas ele procura criar canções em momentos diversos como entre uma consulta e outra, após o almoço ou enquanto dirige. Quando a inspiração vem e não tem um bloquinho à mão, recorre ao celular. Seu aparelho tem várias versões “originais” de músicas da banda.



Compositor, médico, excessos by natyrgomes


Hoje em dia, entre hospitais, postos de saúde, clínicas de atendimento e consultório próprio, é comum o médico ter mais de um trabalho. Atende em um local apenas numa parcela da semana, construindo a rotina de trabalho como um mosaico. Até uns anos atrás, entre Sapucaia, Canoas e Porto Alegre, André conciliava seis trabalhos diferentes como médico psiquiatra, fora a carreira com os Cartolas. O cansaço e o estresse foram os responsáveis pela diminuição no número de trabalhos de lá para cá. Ano passado, quando ainda tinha três trabalhos, ao tirar férias de um, constatou o bem que isso lhe fazia e decidiu que essas férias não teriam retorno.


Atualmente, concilia o consultório próprio com o atendimento em um posto de saúde e aproveita o tempo a mais que possui. Clinica, compõe, corre, namora e ainda sobra tempo para dormir oito, nove horas por dia. As corridas são feitas pela manhã, antes de ir para o consultório. Desfruta o tempo com a namorada no fim do dia, após as consultas.



Dá tempo by natyrgomes

E tudo na música começou com uma revista com cifras de músicas do Raul Seixas. Quem a encontrou foi Otávio, seu irmão mais novo e baixista dos Cartolas. Ela estava encharcada em cima do bebedouro da escola. André, que escutava muito o Maluco Beleza naquela época, a pendurou no varal e, de posse do violão, começou a praticar os acordes ensinados pelas páginas do manual. Em uma semana já conseguia tocar aquelas músicas relativamente bem e em dois meses viu que o quê lhe atraía era compôr, não só tocar canções de outras pessoas.



Como começou a tocar by natyrgomes

Prestou vestibular para Medicina, depois de ficar em dúvida entre esse curso, Arquitetura e Engenharia. Cursou na
UFRGS. Morador de Canoas, pegava dois ônibus e um trem para ir às aulas. Tanto que em sua formatura, agradeceu à Trensurb, o que lhe valeu um convite para um café com o diretor da empresa.


A necessidade de escolher uma especialização foi um momento difícil para ele. André não via muita relação entre a área medica em geral e sua vida, sua banda. Foi quando o interesse pela Psiquiatria manifestou-se de maneira mais clara. “Se não fosse a Psiquiatria no ramo da Medicina, eu teria que fazer outra faculdade.” O caráter mais subjetivo, menos exato desse segmento, aliado à possibilidade de maior controle sobre seu horário, foi decisivo para a escolha. “Tranquilamente, tu pode ser psiquiatra e ser músico”, acredita André.



Milene Unikowski - namorada


Se ser namorada de músico já é complicado, imagina ser namorada de um médico músico. Milene Unikowski que o diga, ela é a namorada do André e na entrevista concedida ao blog Uma Vida Dupla ela comenta como é conciliar as duas carreiras com o tempo de relacionamento dos dois. Orgulhosa do esforço do namorado ela diz que o apoio é essencial, e que se for preciso mudarem de estado para acompanhar a banda ela já esta de malas prontas.
Confira na íntegra a entrevista de Milene

Você acha que o André tem uma vida dupla?
Certamente, acredito que mais do que dupla! Ele tem duas profissões, as quais leva muito a sério. Quando está fazendo música, ele é completamente comprometido com aquilo, se envolve em tudo, desde criar as letras, melodias até o processo final do disco, como a questão da arte da capa, por exemplo. E o mesmo com a medicina. Não posso dizer como ele é atendendo, obviamente, mas vejo diariamente o empenho e interesse que ele tem pela profissão, sempre participando dos congressos (ainda tem isso além das turnês com a banda), palestras, cursos, lançamentos de livros, sempre se atualizando. E além disso tudo ainda tem a família, os amigos e eu! Acho que é mais do que dupla essa vida!



Como é conviver com essa rotina de vida dupla do André? Quanto tempo sobra para o relacionamento de vocês?
Como disse a rotina do André é muito corrida. Durante o dia ambos trabalhamos, ele no consultório ou nos postos de saúde que ele atende (além do consultório o André é psiquiatra concursado e vai atender em Gravataí duas vezes na semana, vai e volta para Canoas) e eu no escritório, fim do dia ele tem ou ensaio, ou alguma atividade que esteja relacionada com psiquiatria e sempre que possível sai com os amigos. Eu faço minhas coisas, vejo minhas amigas, e lá pela noitinha nos vemos e vamos para casa. Mesmo cansado ele faz questão de saber como foi meu dia, contar as novidade e muitas vezes sou surpreendida com um jantarzinho romântico. Temos um tempo um pouco mais restrito que outros casais, mas ele é tão bem aproveitado que sinto que ele sempre está presente para mim! Apesar da correria, sinto que sempre posso contar com ele. Além disso, costumamos nos falar durante o dia, estamos sempre em contato.


Qual das duas atividades você acha mais interessante?
Acho ambas muito interessantes, além disso, conversar com o André sobre ambas deixa qualquer um fascinado! Mas a que acho mais interessante é a carreira musical! Estou mais presente que na psiquiatria. Música ele cria em casa! Tem vezes que estamos sozinhos, vendo um filme e ele me diz: - Amor! Já volto, estou com uma idéia de música na minha cabeça! - Quando ele volta já tem alguma coisa gravada! Fico encantada com isso!


Você acha que a carreira de músico atrapalha a carreira de psiquiatra?
De forma alguma! Como eu disse, ele se doa para ambas as profissões. Certas vezes acho que ele se cobra demais, acha que tem que fazer mais, ou se dedicar com exclusividade para uma só das profissões, mas o André é assim, ele se doa, ele exige dele mesmo, está sempre se avaliando. Não acho que a música atrapalhe a psiquiatria e nem a psiquiatria atrapalha a música. Em alguns momentos acho que elas se ajudam.


Quando vocês se conheceram ele já tinha estas duas atividades ou você acompanhou toda essa trajetória desde o início?
Quando nos conhecemos ele já tinha ambas as atividades. Mas eu estive presente em um processo mais intenso que foi a gravação do novo disco... Nossa!!! Que loucura... Eram reuniões, ensaios, horas de estúdio, depois de gravar tinha que masterizar, e como comentei, o André participa de tudo, absolutamente tudo! Vão gravar a bateria, ele está lá, o baixo, lá vai ele, vão masterizar... horas de André no estúdio, e além disso tem consultório, posto, eu! Esse foi o período mais corrido, mesmo assim se dá um jeito, até acompanhar algumas gravações eu acompanhei. Sabe que no final a correria vale a pena só pela satisfação naquele rostinho cansado, fico super orgulhosa!


Você acha que o seu incentivo as duas carreiras ajuda ele a manter essa vida dupla?
Tomara que sim! O Dé é muito feliz com o que ele faz! Enquanto ele estiver feliz eu vou incentivar ele. Acho importante que ele saiba que sempre terá meu apoio para isso. Que a vida é corrida, isso é, mas a gente sempre dá um jeito.


Otávio Silveira - Irmão e baixista da banda Cartolas


Foi ele quem encontrou a fatídica revista com músicas do Raul Seixas, a pendurou em uma árvore para secar e emprestou para o André. Mas não só isso. Otávio Silveira é baixista dos Cartolas, toca junto ao irmão desde o início da carreira musical, em todas as bandas que formaram. Além de também ter uma vida dupla - Otávio é engenheiro mecânico. Confira abaixo a entrevista de Otávio ao Uma Vida Dupla


Quando surgiu esta idéia de vocês formarem a banda Cartolas? Foi antes dele escolher a especialização em psiquiatria?
É complicado lembrar o exato momento em que isso ocorreu, e se realmente ocorreu, pois começamos a tocar em uma mesma banda de forma muito natural. Nunca existiu um momento de reflexão para a criação de uma banda. Simplesmente o André começou a tocar guitarra e logo depois eu comecei a tocar baixo; como os nossos gostos musicais se tornaram mais próximos, resolvemos tocar juntos. Acho que ele ainda não tinha escolhido a especialidade da psiquiatria, mas já fazia medicina, e eu estava no segundo grau do colégio.

Qual das duas atividades você acha mais interessante?
Se pudesse dizer que atividade ele deveria escolher entre as duas, diria a música. Considero as duas muito interessantes em vários aspectos e creio que elas têm muita semelhança, principalmente pelo fato do André ser compositor. Mas a psiquiatria te leva para um lado muito triste e sombrio por estar sempre ouvindo “reclamações”, enquanto a música te traz o contrário, que é a felicidade do público por se identificar com o teu trabalho. Vale ressaltar que essa é a opinião de alguém que não é psiquiatra.

Você acha que a carreira de músico atrapalha a carreira de psiquiatra ou ao contrário?
Tenho certeza que as carreiras em conjunto se atrapalham, mas também se ajudam. Pois, falando de forma bem clichê, nessa correria de hoje em dia o tempo que tu perde com uma carreira poderia ser utilizado para melhorar a outra; e o dia continua tendo somente 24h. Enquanto o André perde tempo ensaiando, compondo, fazendo shows ou participando em programas de rádio e TV, ele poderia estar atendendo no consultório, fazendo algum curso de especialização, participando de congressos ou simplesmente descansando. Por outro lado, o inverso é verdadeiro, pois nós da banda, sempre comentamos que o André deveria deixar um pouco mais de lado a atividade de psiquiatra e assim dedicar-se mais a banda. Por fim, acho que elas se ajudam porque uma funciona como válvula de escape para a outra.

O André nos disse que você também concilia a banda com a carreira de engenheiro, você acha que o exemplo dele, como irmão mais velho, o influenciou nessa escolha?
Não, de forma alguma. Nunca pensei nisso como um exemplo e ainda considero um mau exemplo. Claro que é importante termos uma formação mais, digamos, “clássica” (eu sei que essa não é a palavra ideal, mas não me vem outra em mente). Ou seja, como a vida de músico é muito complicada e depende de muitos fatores e de muita gente para que role de forma legal, se um dia tudo der errado, nós dois teremos pra onde fugir. Além disso, como eu ainda não tinha certeza se realmente gostaria de seguir a carreira no meio musical, era importante ter outra formação. Mas sempre fico com um peso na consciência, pois acredito que o ideal é se dedicar somente a uma atividade e levar as outras como hobbies.

Na entrevista, o André colocou que se a banda começasse a fazer muito sucesso vocês teriam que se mudar para São Paulo. Como você encara esta possibilidade?
Encaro muito tranquilamente. Acredito que no momento que alguém se dispõe a trabalhar nesse meio, tem que estar disposto a isso. É em São Paulo que as coisas acontecem, lá estão os maiores meios de comunicação e onde está a grana. Assim, somos quase obrigados a se mudar para lá, ou precisamos estar dispostos a ir e vir de lá constantemente.Claro que São Paulo oferece uma riqueza cultural como quase nenhuma outra cidade no Brasil, mas gosto muito de praia e de estar em contato com a natureza, assim São Paulo está longe de ser uma das minhas cidades preferidas.










quarta-feira, 5 de maio de 2010

Pauta colaborativa

Esta pauta foi feita por Mauro Castro com a proposta de ser um matéria colaborativa, em que uma pessoa que não é da área da comunicação faz o papel do jornalista. O objetivo é dar as diretrizes para o leitor ser também um comunicador, de uma forma ética e cidadã.

Uma vida múltipla

Acho que nenhum adolescente sonha em ser taxista. Eu também não sonhava, assumi essa profissão meio que por osmose, herdada do meu pai. A vida é uma estrada cheia de desvios, uma prova cheia de questões de múltipla escolha. O fato é que acabei parando no volante de um táxi e, por incrível que pareça, gosto muito de minha profissão.
Tenho uma passageira, adolescente, que levo uma vez por semana ao analista. Ela não gosta, mas os pais a obrigam. Aliás, desconfio que os pais são o principal problema da menina. Eles não a entendem, não a aceitam.
Assim que embarca no táxi, ela abre um estojo de maquiagem e começa a se montar. Coloca sombras muito escuras nos olhos, batom preto, gel no cabelo e outras coisas mais. Quando volta da análise, antes de entrar em casa, ela tira tudo. Volta a ser a menina que os pais gostariam que fosse. E isso não é tudo.
O pai, um importante funcionário da área diplomática, deu dinheiro para que ela fizesse um curso de Inglês. Ao invés disso, ela inscreveu-se em um curso de artes circenses. Está praticando malabarismo aéreo em tecido - uma modalidade de acrobacia em que o artista se pendura em uma fita de tecido e faz manobras no ar. Dia desses, fiquei para assistir a uma aula. Bem legal.
Acho cruel exigir que um jovem na casa dos vinte anos decida o que quer ser na vida. Quando tinha essa idade, meu pai sonhava que eu fosse funcionário do Banco do Brasil, mas sempre me apoiou em minhas decisões, mesmo quando resolvi que seria um taxista-escritor-músico-desenhista. Nessa ordem.
Nem todos levam às últimas consequência seus sonhos juvenis. À medida que o mundo gira, minha jovem passageira, por exemplo, pode perceber que a carreira diplomática tem lá sua graça, assim como a vida no picadeiro. Talvez, então, pai e filha se entendam.
Por falar em pai, alguém sabe quando abre concurso para o Banco do Brasil?